23 de out. de 2020

Obstáculos no relacionamento com o pai divino e o pai de família

 Obstáculos no relacionamento com o pai divino e o pai de família


Não há dúvida que muitos países possuem um grande amor à Santíssima Virgem. Mas chama a atenção que alguns povos tão marianos, não manifestem igual sentido para uma vinculação pessoal profunda com o Pai de Cristo. E acontece muitas vezes o caso de que alguém cortou sua relação com Deus, tornou-se ateu, mas segue mantendo, entretanto a relação com a Virgem; parece ser o último que se perde.


A razão desta situação não é difícil de entender, se olhamos de perto a realidade da família. O pai é, em muitas famílias, uma figura muito débil. Em comparação com a mãe, resulta quase um estranho. Está ausente de casa durante todo o dia e, geralmente, carece de capacidade de diálogo pessoal com os seus. Seu trato é normalmente distante e duro. Nos setores populares é ele quem grita e bate que é autoritário e injusto com os filhos, que é alcoólico e por isso maltrata a mãe.


Nos níveis médios e altos, a crise de paternidade não se expressa tanto em violência. O pai é aí geralmente o grande ausente do lar: o que sempre está ocupado em coisas importantes que não lhe deixam tempo para os filhos. Acredita que sua função paterna se reduz a trabalhar por sua família, a dar-lhe coisas aos seus. Quantos filhos dão a entender claramente que preferiam ter menos dinheiro, e ter um pai mais próximo.


Para muitos, a palavra “pai” é uma palavra que só evoca rebeldia ou frustrações. À jovens feridos ou frustrados pelo pai ausente ou violento, não podemos dizer-lhes: Tenho uma boa noticia: Deus é Pai e te ama. À jovens que rechaçam o seu pai e tratam de fugir dele, essa boa notícia de Deus Pai se transforma em uma má notícia. 


Por isso, o Padre Kentenich, fundador do Movimento de Schoenstatt, afirma que vivemos como o filho pródigo, em “estado de fuga da casa do Pai”. Em sua opinião, o problema do ateísmo moderno se deve, em primeiro lugar, a crise da família. “Tempos sem pais são tempos sem Deus”.


Crise de pai, crise de autoridade


Aqui reside a causa mais profunda da crise de autoridade, tanto na sociedade como na Igreja. No fundo trata-se do rechaço a uma autoridade que o homem de hoje identifica com a do próprio pai. O deterioro da autoridade familiar o leva a considerar abusiva e opressora qualquer autoridade. O homem moderno pensa que o próprio da autoridade é “mandar”. Numa cultura da eficácia, a autoridade se reduz a isso: a mandar, porque a ordem é o mais rápido.


Mas a função da verdadeira autoridade é dar vida, fazer crescer. Modelo dessa autoridade é Deus Pai Todo Poderoso e seu reflexo, o Bom Pastor. Por isso, a criança recém nascida, não se lhe dá ordens. Simplesmente, se lhes veste, se lhe alimenta, se lhe acaricia, se lhe ensina. 

Ninguém ensina a caminhar a uma criança dando-lhe ordens, mas se lhe dá a mão, anima-lhe. A ordem só tem sentido se ajuda a crescer. A autoridade, qualquer autoridade só se justifica se está ao serviço da vida, como fonte de vida.


Que pobre é, frente a esta visão, o conceito atual de autoridade! Em todos os níveis, a autoridade humana foi-se distanciando de seu modelo, Deus Pai. Quem deveria refleti-lo, no plano religioso, político, laboral e familiar, não o refletem. Por isso, as palavras “pai” ou “autoridade”, a muitas pessoas lhes soam ocas ou lhes produzem rechaço. 


Como receberão o anúncio de um Pai providente que sempre nos mira e que com poder infinito nos tem ao alcance de sua mão? Será, sem dúvida, a pior e mais deprimente notícia que possam escutar.


Perguntas para a reflexão


  1. Brindo meu tempo privilegiado a minha família?
  2. Como foi minha relação com meu pai natural?
  3. É fácil vincular-me com Deus Pai?



Pe. Nicolas S.

Pe. Marcelo A.

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